Em que contexto se cria uma obra de arte? Por onde começa? Como se constrói? Quem está por detrás dela? Como é o seu mundo? A lente indiscreta surge para captar o ambiente e o momento da criação, a personalidade e a intenção do artista. É um projecto fotográfico há muito pensado e que finalmente começa a ganhar forma. Trata-se de aliar o poder da imagem ao valor que a escrita lhe pode acrescentar, de divulgar a arte das pessoas - a vossa arte - seja um projecto bem definido ou simplesmente um hobby. Trata-se de abrir ao mundo aquilo que vos move e de lhe mostrar novas perspectivas, novos conceitos ou simplesmente novas reinvenções de uma mesma realidade. Esta é a lente indiscreta.




TIAGO DA NETA












































Algo nervoso mas sorridente, guia-nos por umas escadas até ao seu retiro: o quarto onde descansa, toca e compõe. No suporte uma partitura repousa à espera que alguém lhe dê vida. Na parede, a primeira guitarra que teve e o bandolim fazem companhia às fotografias da família, que descansam sobre um móvel com literatura tão variada como Eça de Queirós, Jane Austen, Camões ou António Vitorino de Almeida. Tudo parece ter o seu lugar, até mesmo as congas que disfarçadas descansam sobre uma colecção de filmes de fazer inveja. O que fazem umas congas no quarto de um músico clássico? A resposta faz parte da viagem que Tiago da Neta percorreu até ser o músico que é hoje.

Conversar com o Tiago sem ter por som de fundo os acordes da guitarra não seria tarefa fácil. As palavras saem-lhe com mais facilidade enquanto os dedos passeiam pelas cordas. “Atrás dela sinto-me confortável comigo mesmo, ela fez-me sentir que tenho o meu lugar no mundo”. O primeiro contacto com a música aconteceu através de uma bateria numa típica banda de garagem mas foi a guitarra que o conquistou. A ingressão na música clássica deu-se quase por acidente quando um dia, enquanto frequentava o curso do conservatório, ouviu um aluno tocar “A Catedral”, de Agustín Barrios. “Eu não sabia nada de guitarra clássica. Nunca tinha visto um concerto de música clássica mas fiquei com curiosidade e com vontade de aprender mais”, explica Tiago.

Ouve Bach e Debussy mas é ao som de “L’incorazione di Poppea”, de Monteverdi, que confessa: “sempre gostei de escrever mas nunca pensei que fosse capaz de compor”. Descobriu essa capacidade ao participar numa fanzine. “Li a frase Sou esta casa uma viagem inabitada na escuridão e surgiu-me logo isto”, conta Tiago, enquanto nos delicia com uns acordes de “Sou esta casa”, da sua autoria. É a rir que nos diz, “compor é uma coisa que surge naturalmente, ainda não sei bem como é o processo. Para mim, música não é tocar uma série de notas, é exprimi-las”. Algo que compreendemos quando o ouvimos tocar. 

A delicadeza com que toca nas cordas alterna com a intensidade da música. O seu rosto concentra-se, a postura altera-se. Quem está à nossa frente não é o Tiago tímido que cora perante perguntas desconfortáveis. É o Tiago da Neta, o músico que vibra e sente, arrepiando-nos e transportando-nos para outro local. Sentimos que há ali um respeito imenso e um amor incondicional e percebemos que Tiago não se limita a tocar. Talvez seja por isso que, quando estuda uma peça, tenta saber o máximo sobre a mesma.“Gosto imenso de pesquisar sobre os compositores e as peças. Tenho de interpretar e sentir para poder passar os sentimentos para as pessoas”. 

Não tem rituais antes de um concerto. Contudo, admite que antes de entrar em palco fica com mau feitio, algo que resulta da concentração que necessita para tocar. “A música tornou-me diferente na maneira de me exprimir, fez-me sentir que tenho alguma coisa a dizer”, afirma. O objectivo seguinte é ter um repertório seu para gravar em Julho. Modesto e optimista por natureza diz que “há sempre muito para aperfeiçoar e aprender”, e esta é uma das razões pela qual gostaria de “equilibrar mais o tocar com o dar aulas”. Quando o questionamos se é possível viver apenas da música, responde-nos sem hesitar: “Eu não tento viver de tocar, senão dava em maluco!”

Tiago confessa que não gosta de não ter respostas concretas e por isso só pensa no presente. O futuro surge nos seus lábios sob a forma de sorriso, e é com uma enorme simplicidade que conclui: “A fama mundial não é o meu caminho. O meu caminho é expressar-me através da música, fazer as minhas coisas e ser feliz”.

P. Pato

Saiba mais acerca do trabalho do Tiago aqui





Slightly nervous but smiling, he guides us through some stairs that lead to his retreat: the bedroom where he rests, plays and composes. The sheet music is at ease on the music stand, waiting for someone to bring it to life. On the wall, he’s first guitar and a mandolin come along with the family photos that rest on a piece of furniture where we can find literature as varied as Eça de Queirós, Jane Austen, Camões and António Vitorino de Almeida. Everything seems to have its place, even the congas that disguised rest upon a film collection that makes us envy. What are some congas doing in a classic musician room? That answer is part of the travel that Tiago da Neta came through until he became the musician that he is today.

Talking with Tiago without the background sound of his guitar wouldn’t be an easy task. Words flow easier while his fingers wander through the strings. “Behind it I feel comfortable, it made me feel that I have my place in the world”. His first contact with music was through the drums in a typical garage band but it was the guitar that conquered him. His journey in classical music started almost by accident, when he was studying at the music conservatory and heard a student playing “A Catedral”, by Agustín Barrios. “I didn’t knew anything about classical guitar. I had never seen a classical music concert but I got curious and willing to learn more”, explains Tiago.

He likes to hear Bach and Debussy but it’s with “L’incorazione di Poppea”, by Monteverdi, that he confesses: “I always liked to write but I never thought that I was capable of compose”. He discovered that ability when he participated in a fanzine. “I read the phrase Sou esta casa uma viagem inabitada na escuridão and this immediately came to me”, says Tiago while he delights us with some chords of “Sou esta casa”, of his authorship. Smiling, he tells us that “composing happens naturally, I’m still not sure how it happens”. “Music for me isn’t simply playing a series of chords, but expressing them. This is something that we understand when we hear him play.

The delicacy with which he touches the strings alters with the music intensity. His face sterns, his posture changes. It’s not the shy Tiago, who blushes with uncomfortable questions, that stands before us. It’s Tiago da Neta, the musician that vibrates, that feels, gives us goose bumps and takes us to other places. We feel that there is an enormous respect and unconditional love and we understand that Tiago doesn’t play music but expresses feelings. Maybe that’s why that when he studies a music piece he tries to know everything about it. “I like to research about the composers and their pieces. I have to understand and feel to be capable to pass the feeling to the public. 

He doesn’t have rituals before a concert. However, he admits that before entering on stage he gets a bad temper, due to the concentration that he needs to play. “Music made me express myself in a different way, it made me feel that I have something to say”, he says. The main objective is to have his own repertoire to record in July. Modest and optimistic by nature says that “there is always much to improve and learn”, and this is one of the reasons why  he would like “to even playing with teaching”. When we ask him if it’s possible to live from music he answers without hesitation: “I don’t try to live from playing otherwise I would go mad!”

Tiago confesses that he doesn’t like to have straight answers, so he only thinks about the present. The future emerges in his lips as a smile, and it’s with an immense simplicity that he concludes: “Worldwide fame isn’t my path. My path is to express myself through music, do my things and be happy”.

P. Pato

Learn more about Tiago’s work here